16/10/2024

O Impacto do Consumo de Água Engarrafada na Saúde e no Ambiente


Nos últimos anos, o consumo de água engarrafada tem vindo a crescer de forma preocupante, movido por uma perceção de qualidade superior e conveniência. No entanto, este hábito tem um impacto profundo, tanto na saúde pública como no meio ambiente, que muitas vezes é ignorado.


Impacto Ambiental


O principal problema associado ao consumo de água engarrafada reside na produção e descarte de embalagens de plástico. Estima-se que milhões de garrafas plásticas sejam produzidas diariamente em todo o mundo, com uma pequena fraçãoa chegar ao circuito de reciclagem. A maioria dessas garrafas acaba em aterros sanitários ou, pior, nos nossos oceanos, contribuindo para o aumento da poluição por plásticos, agravando a crise da sobrevivência de espécies de flora e fauna.


A produção de garrafas plásticas também envolve o uso intensivo de recursos naturais. Para fabricar uma garrafa de plástico de um litro, são necessários três litros de água e grandes quantidades de petróleo, o que resulta numa pegada de carbono significativa. Além disso, o transporte de água engarrafada, muitas vezes por longas distâncias, contribui para as emissões de gases com efeito de estufa com custos e impactos incalculáveis.


Impacto na Saúde


Embora a água engarrafada seja amplamente considerada segura, nem sempre é sinónimo de maior qualidade. Estudos indicam que algumas marcas de água engarrafada contêm microplásticos, produtos químicos disruptores endócrinos, como o bisfenol A (BPA), e outros contaminantes que podem ser prejudiciais à saúde humana. Além disso, a exposição prolongada ao calor pode causar a libertação de substâncias tóxicas das garrafas plásticas para a água.


Outro fator preocupante é a ausência de regulamentação rigorosa em algumas regiões do planeta, onde a qualidade da água da torneira é frequentemente superior à da água engarrafada.


Alternativas


Para mitigar o impacto ambiental e os riscos à saúde associados ao consumo de água engarrafada, é crucial considerar alternativas mais sustentáveis:


Água da Torneira Filtrada: A água da rede pública em Portugal é, na sua maioria, de excelente qualidade e segura para consumo. O uso de filtros de água em casa pode melhorar ainda mais a qualidade, removendo possíveis impurezas e odores. Existem filtros de várias tecnologias, como carvão ativado ou osmose inversa, que oferecem soluções acessíveis e eficientes.


Estação de Água Filtrada em Locais Públicos: Uma das soluções mais eficazes e sustentáveis seria a implementação de estações de água filtrada em espaços públicos, como centros comerciais, estações de comboios, parques e eventos desportivos. Estes pontos de abastecimento permitiriam às pessoas encherem garrafas reutilizáveis, reduzindo drasticamente a necessidade de comprar água engarrafada.


Garrafas Reutilizáveis: O incentivo ao uso de garrafas reutilizáveis feitas de materiais como aço inoxidável, vidro ou plásticos livres de BPA é outra medida prática e imediata. Além de serem seguras para a saúde, estas garrafas têm uma durabilidade muito superior às de plástico descartáveis e podem ser usadas repetidamente, reduzindo significativamente o desperdício.


Políticas Públicas e Incentivos: A promoção de campanhas educativas sobre os benefícios da água da torneira e a criação de incentivos governamentais para empresas que promovam práticas sustentáveis também são essenciais para uma mudança a longo prazo. Por exemplo, a proibição ou restrição da venda de água engarrafada em instituições públicas, como escolas e hospitais, pode ser um ponto de partida importante.


A Mudança Começa Connosco


O impacto negativo da água engarrafada é um problema que pode e deve ser resolvido com o contributo de todos. O Movimento de Intervenção Cívica (MIC) acredita que a adoção de hábitos mais sustentáveis começa com a consciencialização e a educação. Cada garrafa reutilizada ou dispensada faz uma diferença no combate à crise ambiental e na proteção da nossa saúde.


O MIC apela, em particular, ao setor do retalho e da restauração, para a urgente mudança de hábitos, nomeadamente para o fim da venda de água engarrafada e acondicionada em plástico de reduzida dosagem (inferior a 75 ml), optando pela disponibilização de garrafas de vidro ou, preferencialmente, água filtrada disponibilizada a granel.


Individualmente compete-nos fazer melhores escolhas, evitar o consumo da água engarrafada, em especial das garrafas pequenas. Opte por garrafas reutilizáveis e, sempre que possível, água corrente, preferencialmente filtrada.


A solução está ao nosso alcance: basta optarmos por alternativas que promovam um futuro mais verde e saudável para as próximas gerações.


Eu faço a minha parte! E tu, fazes a tua?


Divulgado em 26-09-2024, por:


Fontes/Links:

https://movimentocivico.eu/o-impacto-do-consumo-de-agua-engarrafada-na-saude-e-no-ambiente-alternativas-sustentaveis

ΦΦΦ

09/10/2024

Leituras...

 


Piroceno

De como a humanidade criou uma Idade do Fogo e o que virá a seguir


de Stephen J. Pyne


O fogo deu aos humanos um super-poder, que é também uma ameaça poderosa. E se, paradoxalmente, para termos menos incêndios precisarmos de mais fogo? A história do fogo corresponde à história da vida na Terra. Só na Terra existe fogo. Habituados a controlá-lo, esquecemo-nos com frequência de que ele destrói mas também fortalece. Fogos florestais devastadores escondem que a quantidade de terra efectivamente ardida está a diminuir a nível global.

Paradoxalmente, quanto mais tentamos eliminar o fogo dos lugares que com ele se desenvolveram, mais violentamente ele regressa. Criámos um mundo de fogo errado a mais, com um défice dramático do tipo de fogo certo.



Stephen J. Pyne

Stephen J. Pyne, professor emérito da Universidade do Arizona, é um historiador ambiental com mais de trinta livros publicados, grande parte deles dedicados à investigação sobre a história do fogo. Em 1967, com 18 anos, iniciou a atividade de bombeiro no Grand Canyon, especializando-se na deteção precoce de fogos florestais no grande parque nacional norte-americano. Essa atividade conduziu-o ao estudo do fogo e fez dele uma das maiores autoridades mundiais na matéria.



“Mesmo triplicando o equipamento de combate a incêndios, já não se consegue parar o fogo, porque perdemos o controlo sobre a paisagem”, diz ao Expresso o historiador Stephen J. Pyne, cujo livro “Piroceno” foi lançado recentemente em Portugal.

O despertar para o fogo surgiu quando, ainda jovem, trabalhou como bombeiro florestal no Parque Nacional do Great Canyon, no Arizona, durante as férias. Já o fogo como objeto de estudo surgiu no fim do curso universitário, conta Stephen J. Pyne em entrevista ao Expresso por videoconferência. O historiador americano soma três dezenas de livros, entre os quais o agora traduzido para português pela Zigurate “Piroceno — De como a Humanidade Criou Uma Idade do Fogo e o que Virá a Seguir”.

 “Mesmo triplicando o equipamento de combate a incêndios, já não se consegue parar o fogo, porque perdemos o controlo sobre a paisagem”, alerta.

A época do Antropoceno em que vivemos coincide com a do Piroceno. Afinal, o que é o Piroceno?

Usamos o fogo há 200 ou 300 mil anos. Somos a única espécie que o usa atualmente. 

Desde o final da última glacia­ção, há 10 mil anos, temos um mundo a aquecer cada vez mais rapidamente e a tornar-se recetivo ao fogo. 

Ao mesmo tempo, temos uma criatura, nós, que transporta e usa o fogo para onde quer que vá. É esta interação que me leva a chamar Piroceno a esta época geológica.



Fontes/Links:



ΦΦΦ

Maritime pines identified as trees that burnt most in wildfires

Maritime pines identified as trees that burnt most in wildfires Burnt area of maritime pines “three times greater than area of eucalyptus” T...