My 2nd page... a sobrevivência dos vários lugares da Serra da Lousã.


O memorial do Sobral, em homenagem ao povo que, em 1909, lutou contra a ocupação dos terrenos comunitários de Serpins


esta página é dedicada a todos os CIDADÃOS ENVOLVIDOS NA LUTA PELA DEFESA DOS SEUS DIREITOS

this page is dedicated to all the citizens involved in the fight to preserve their rights.

 


Na Lousã, a reflorestação da mata do Sobral, foi marcada por episódios de revolta popular e de grande contestação relativamente ao processo, numa palavra, em defesa dos direitos seculares de livre utilização e aproveitamento.

(…)

Não obstante as preocupações da gestão camarária(181), tornava -se cada vez mais difícil a sobrevivência dos vários lugares da Serra da Lousã.

MONTEIRO (op. cit.) advoga que os Serviços Florestais não respeitaram as indicações e recomendações dos povos serranos que foram transmitidas pela Câmara, procederam a sementeiras e plantações em áreas contíguas às culturas, árvores e até logradouros, desrespeitando as necessidades dessas populações e os acórdãos anteriores em que estavam patentes, de forma clara, as áreas específicas de intervenção e onde se procurou assegurar os direitos dos habitantes das aldeias serranas, no que diz respeito aos caminhos, às águas, pedra e matos. Apesar dos protestos das populações, a acção da Câmara foi pautada por uma certa inércia (voluntária ou por influência superior), acabando por enviar aos Serviços Florestais as conclusões extraídas do inquérito de 1927.

A opinião de quase todos os entrevistados e informadores com quem falámos durante a investigação, vai no sentido de que os Serviços Florestais, de um modo geral, respeitaram a área dos casais e as condições consideradas essenciais para a sua manutenção.

Contudo, foram intransigentes na defesa e policiamento das áreas de baldio, submetidas ao regime florestal parcial, porventura por excesso de zelo.

 A imposição deste modelo de florestação dos baldios abriu entre o Estado, os municípios e a sociedade rural uma importante “linha de fractura”(182)

Na Lousã, a experiência anterior, particularmente a reflorestação da mata do Sobral, foi marcada por episódios de revolta popular e de grande contestação relativamente ao processo, numa palavra, em defesa dos direitos seculares de livre utilização e aproveitamento.

 

 (181)   Perante as reclamações apresentadas pelas várias freguesias, a Câmara da Lousã tomou algumas medidas, diligenciando no sentido de salvaguardar os interesses locais baseados em reclamações aceitáveis e legítimas. Mandou, ainda, proceder à elaboração de um inquérito (aliás, obrigatório, segundo os artigos 14.º a 37.º do “Regulamento” de 1903), cujas conclusões passamos a transcrever:

– «Manutenção dos necessários caminhos de ligação entre as várias povoações da Serra, e bem

como assim das servidões para propriedades, moinhos, lagares, etc., e das servidões de águas;

– Manutenção dos direitos dos povos e dos particulares à água para fontes e regas, bem como às quedas de água aproveitadas para moinhos e lagares;

– Manutenção da faculdade de explorar pedra nas pedreiras existentes ou noutras que a Câmara mande abrir;

– Reconhecimento insofismável do direito dos povos aos matos, lenhas e esteios, provenientes das limpezas normais das matas, sob a fiscalização dos empregados dos serviços florestais»

(Alma Nova, 2/4/27, cit. por MONTEIRO, op. cit., 234).


(182)  A luta pelos baldios é o tema central do romance Quando os Lobos Uivam (1958), de Aquilino Ribeiro. A obra incomodou o poder político de tal maneira que valeu a Aquilino Ribeiro um processo censório movido pelo Estado Novo.

O autor retrata, através de personagens ficcionadas, a teia de relações conflituosas entre o Estado e as populações locais, com disputas sangrentas pela posse e utilização dos baldios, como as que aconteceram na freguesia de Serpins (Lousã).


in  Património Construído Construído e Desenvolvimento em Áreas de Montanha O Exemplo da Serra da Lousã (Paulo Carvalho)  (2021)

_631 Pags.pdf Pag 355

 


MAIS LEITURAS/LINKS:


EFEMÉRIDES LOUSANENSES  (divulgado recentemente no Grupo do Facebook História, Cultura e estórias da Lousã)


1916 - Foram julgados e ilibados pelo Tribunal de Coimbra, os 16 serpinenses acusados de terem promovido os tumultos nas Matas do Sobral, Cabeça Gorda e Braçal, na freguesia de Serpins, quando estas foram entregues, pela Câmara Municipal, ao Regime Florestal.



Fontes/Links:

https://www.researchgate.net/publication/329127461_Os_Baldios_da_Discordia_As_Comunidades_Locais_e_o_Estado



Outros Links:

https://www.trevim.pt/2020/09/24/ha-111-anos-serpins-teve-ocupacao-militar-pela-defesa-do-direito-ao-baldio-do-sobral/

https://www.trevim.pt/2024/09/19/memorial-imortaliza-luta-do-povo-em-defesa-dos-baldios/



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